quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Frei Junípero cozinhando...



Como Frei Junípero cozinhou o bastante para quinze dias

Uma vez, Frei Junípero estava em um pequeno convento e todos os frades tinham que sair. Pediram-lhe que cozinhasse alguma coisa. Ele prometeu que o faria de boa vontade. Mas quando eles saíram, Frei Junípero começou a pensar no assunto e disse: “Que é isso? Será que um frade tem que se ocupar todos os dias com essas refeições e ser perturbado em sua dedicação à oração? Vou cozinhar hoje tanto que dê para os frades tenham bastante que comer por quinze dias”.

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E assim, todo solícito, entrou na vila, pediu emprestadas muitas vasilhas grandes, ovos, galinhas e diversos tipos de verdura. Encheu todas as panelas de água, colocou-as no fogo e depois pôs as ervas e verduras, os ovos com casca e as galinhas com penas para cozinharem juntos. Nesse meio tempo, chegou um frade que era amigo de Frei Junípero e costumava aprovar suas simplicidades. Acolhido por Frei Junípero, vendo aquele fogaréu e tantas panelas fervendo, ficou admirado, lembrando um pouco da simplicidade de Frei Junípero. Sentou-se junto ao fogo e, calado, observou todas as ações e gestos dele.

Pois viu com que solicitude ele passava de uma panela a outra, remexendo o que estava dentro com um pau, colocando lenha, soprando o fogo e assim fazendo sem cessar alguma coisa de cozinha. Na verdade, como o calor era muito e não podia se aproximar bem, pegou uma tábua e amarrando-a ao seu corpo com cordas postas de um lado e do outro, para se defender do ardor do fogo. Tirou as panelas para quando todos os frades voltassem para o conventinho e fossem para a mesa. Frei Junípero disse-lhe: “Vamos comer bastante e depois vamos orar, e ninguém tem que se preocupar com a cozinha nestes quinze dias, porque eu já preparei o suficiente”.

Depois, serviu as travessas aos frades, e ovos com casca e galinhas sem parte das penas. Mas as penas que as galinhas tinham perdido na fervura os frades encontraram no fundo das tigelas. E logo, para que uma simplicidade viesse depois da outra, pegou uma galinha com penas e, para animar os frades a comerem, colocou-a na boca sem cortar, só quebrando, e disse que aquela galinha era boa para confortar o cérebro: “esta vai manter o corpo úmido”.

Os frades ficaram admirados com tanta simplicidade, tomando a doidice como um exemplo de grande sabedoria. Mas o guardião ficou muito bravo com ele. Então Frei Junípero se ajoelhou no chão diante dos frades confessando humildemente a sua culpa e dizendo que era um homem mau, e contava os pecados que tinha cometido. E dizia: “Fulano foi cegado por seus deméritos, sicrano foi enforcado. Eu deveria ser enforcado por meus males e porque fui tão grande destruidor dos benefícios de Deus e da Ordem”. E assim se retirou e não quis aparecer na frente dos frades o dia inteiro. Mas o guardião disse aos frades: “Eu gostaria que esse frade consumisse todos os dias todos esses bens, se os tivéssemos, contanto que assim me edificasse todos os dias”.